A opção pela criação legal de animais
silvestres em ambiente doméstico
Por Hudson Pinto Sampaio Santos
Criar animais silvestres em ambiente doméstico não foi uma invenção de alguns
"algozes da natureza" que a partir do ano 2000 montaram um complô
para tornar um mundo um lugar inabitável. Criar animais em domesticidade na
verdade faz parte da cultura milenar de todos os povos de todos os países do
mundo. Desde os seus primórdios os homens e mulheres domesticaram animais, e
foi isso que permitiu que alguns deles assumissem funções importantes em nossos
dias, seja na composição de nossa alimentação, seja na função de companhia ou
estimação.
Alguns argumentam que existem animais que
não compõem a fauna silvestre e podem ser utilizados como "pets",
deixando nossos exemplares em ambiente natural. A aceitação desta hipótese é
tão descabida como querer que deixemos de falar nossa língua para falarmos o
inglês, ou deixar de ouvir nossa música e ler nossa literatura porque já
existem música e literatura de qualidade no exterior, ou ainda relegar nosso
folclore porque existem outros à disposição. É a verdadeira negação da nossa cultura
e raízes.
Por outro lado, todos sabemos que nos outros
países, notadamente da Europa e América do Norte, a criação da nossa fauna é
legal, o que gera a incongruência de sermos forçados a criar o Periquito
Australiano, o Canário Belga e o Ferret deles, enquanto felizardos estrangeiros
criam nossas Iguanas, Canários-da-Terra, Azulões etc.
Os incautos ainda dirão que não existe
motivação plausível por parte dos criadores. Cheguei a ler a barbaridade de que
somente se cria por caridade, vaidade ou lucro. Reduz-se a nossa cultura e
paixão a tão baixo nível! Todos nós certamente conhecemos pessoas que se
dedicam à criação de animais por puro altruísmo, embora esta não precise ser
necessariamente sua única motivação. A felicidade de conviver com um animal
estimado se compara, muitas vezes, à felicidade do convívio com um ente
querido. Se está havendo exageros de vaidade ou de lucro, que se estudem
mecanismos que coíbam estas práticas.
Outros ainda baseiam seus argumentos nas
dificuldades de fiscalização, normalmente os responsáveis por esta. A estes eu
proponho que parem de se comportar como organizações não-governamentais e
tratem de cumprir com suas atribuições que certamente haverá tempo de sobra
para tal mister.
Todos nós sabemos que os motivos da diminuição
de nossa fauna assumem várias vertentes, inclusive algumas que, apesar não
menos graves que o tráfico de animais, são mais significativas do ponto de
vista destrutivo como, por exemplo, a destruição do habitat e da alimentação
natural, a poluição e a corrupção. Todos nós sabemos também que tudo isso pode
ser controlado, bastando haver mais trabalho e menos discurso e desídia por
parte de nossas autoridades.
A falta de tato, o preconceito e o ranço dos
que se revestem de "ongueiros" fajutos (que nada têm a ver com o
trabalho sério desenvolvido por muitas ONGs), inclusive aqueles que deveriam se
revestir do princípio administrativo constitucional da impessoalidade, não
fazendo a defesa de opiniões pessoais, mas observando a questão de cima e de
uma forma holística, certamente se dá ou pela desinformação e falta de formação
ou mesmo pela desocupação. E há de se enfatizar que o preconceito com aqueles
que criam e amam seus animais de estimação pode ser comparado a qualquer outro
preconceito, dada a agressividade de seus arquitetos.
Aqueles que fazem a defesa cega da
impossibilidade da criação doméstica, além de terem argumentos frágeis, estão
desrespeitando os direitos individuais e coletivos de outras pessoas e em nada
estão contribuindo para a preservação da natureza. Muito pelo contrário,
estariam condenando para sempre à ilegalidade uma parcela muito significativa
da população que certamente não deixará sua cultura e paixão de lado.
Hoje, pode-se dizer que ainda estamos
engatinhando no sentido de se obter uma situação favorável no que tange ao
quantitativo de animais em regime de domesticidade que atendem aos requisitos
legais e aqueles que são retirados arbitrariamente da natureza, porém a negação
dos avanços que se tem conseguido é um retrocesso e só contribui para que a
ilegalidade prevaleça. Temos sim que educar nossa população a adquirir animais
legalizados e estimular a reprodução destes.
Defender a simples proibição da criação de
nossa fauna em domesticidade é tão insano quanto defender que ninguém mais se
alimente de animais abatidos. Por mais que alguns se sintam afetados com esta
condição, o respeito aos direitos de uma parcela muito mais significativa da
população e à sua cultura milenar deveria fazer com que estas pessoas, com um
mínimo de reflexão, submetessem seus caprichos à razão e procurassem
alternativas de realmente se fazer um trabalho adequado de manejo de nossa
fauna silvestre. Somente isso poderá salvá-la.
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